segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sem Silêncio

Em plena segunda década do presente século, percebo o que não deveria perceber, sinto, e sinto falta, de algo que há muito tempo era abundante, mas hoje se tornou escasso. Não estou falando da água, ainda, acho ser muito cedo pra gritar cataclismos, falo do Silêncio. Que fim ele levou? Por onde anda? Alguém o viu ou ouviu? O vento o levou? Ou não mais existe? Findou de vez? Tente se lembrar, meu caro leitor, da última vez que você o ouviu. Em tempos de frenesi, de afobação e intolerância, o pobre se acuou. Até mesmo à noite, período em que ele reinava absoluto, não o sinto mais. Sempre há um barulho externo, e interno. É um cachorro que late, é um carro que bate, é um cara e uma mina que se embatem. Ou o próprio intestino delgado trabalhando até tarde. Ou uma criança choramingas exigindo comida, carinho, coringa... Nem mesmo nas bibliotecas eu o encontro! É um tec-tec constante, um bate papo papudo e uns estalos esferográficos agudos. Nem cá na cachola eu sinto sua presença. A mente é inquieta, teimosa ao extremo, perturbada e louca, está sempre pensando em alguma coisa. Não para! Não sossega! Não dá trégua! Exige e quer – e como quer! – processar tudo o que ou quem esses olhos veem. O Silêncio não ajudava a pensar, a relaxar?? Pois então, tá complicado, estou estressado! Caro Silêncio, meu velho, apareça. Apreciava ti ouvir, sério, não é gentileza, não, é sinceridade. Oh, do fundo do meu coração, tenho por ti mó amizade. Vai ver é por isso que tu te ausentou. Abandonado fui pelos meus ditos amigos. E se até você foi-se embora, o que me restará? Caos.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Até quando insistir?

E agora? O que fazer diante de vários pés-na-bunda? Eh, a situação tá feia, ou são as mulheres que estão mais exigentes, mais difíceis?? Não entendo bem. Sou persistente, sabe? Pareço-me muito com um camarada meu. Ele, na balada, quando avista a guria pretendida, chega junto, cola, abre aquele sorrisão e tece seu virtuoso xaveco. Entretanto, na maioria das vezes, toda vez, quero dizer, o cara toma toco. Mesmo assim, ele não desiste, persiste até o fim da balada, e não consegue nada. Algumas vezes investe em outra, e fica lá, colado, dança juntinho, quando consegue, uma conquista, mas não passa disso. Foi usado, consumido e dispensado, educadamente. Aí ele volta pro primeiro alvo. E toma mais e mais toco. O cara tá calejado. O cara é um herói. Quanto a mim, sou mais contido, calculista, só tomo atitude quando recebo um sinal, aquele olhar, sabe? Eh, só me aproximo quando vejo reais chances de conquista. Não aprecio ficar circulando pela casa em busca de alvos. Fico lá, de canto, dou uma andada ali, acolá, e quando há troca de olhares, aí sim abordo a guria. Ajo assim ao vivo, no mundo virtual é um bocadinho diferente. Lá, o negócio é mais burocrático. Curto trocar e-mails com as minhas conhecidas. Não são muitas, mas muito boas são. Escrevo-lhes mensagens criativas, sempre, ao desenvolver o pequeno texto, demonstro simpatia, bom-humor, educação e um pouquinho de malícia, afinal, ser interessante, provocar-lhes curiosidade é essencial. Mas, após muito tempo fazendo isso, de bom grado, não pra sacanear com elas, percebi que elas não gostam disso. Não sei bem o porquê. Acham-me um chato talvez. Escrevo muito certinho, ou muito diferente dos seus outros correspondentes. Posso estar exagerando, afinal, a maioria já estão de namorico, mas meu objetivo não é cortejá-las pra conseguir alguma coisa a mais, nada disso, só quero, gostaria de provar da sincera amizade delas. O que isso tem de imoral? Ou de suspeito? Nada! Mas enfim, acho que não vou mais insistir nisso aí. Até quando insistir? Cansei. Vou me dedicar às meninas da Augusta. Vou flertar descaradamente com as mulheres mais interessantes que eu já vi nesta minha vida citadina. Chega de burocracias pós-modernas! Vou me jogar e me lambuzar nessa zona de Sampa. Ah, antes de qualquer coisa, que fique bem claro, não estou querendo dizer aqui que as gurias da Augusta são mais fáceis, e não estou me referindo às outras mulheres de hábitos noturnos, o que quero dizer, e deixar aqui registrado é: creio que vale realmente a pena investir nas mulheres da Augusta. Mulher não é tudo igual! Acho que serei mais feliz com elas. Vamos ver então. Outro dia comento sobre, tá bem?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Escrivaninhas públicas

Já faz um bom tempo desde minha última visita ao Centro Cultural São Paulo (CCSP). Lembro-me que ia lá todo fim-de-semana, pra estudar sobre aquelas mesinhas de madeira tão singulares. Isso nos primeiros anos de faculdade, claro, pois, bem mais tarde, já no finzinho do curso superior, frequentei de vez a biblioteca da Universidade. Não era a mesma coisa, não era a biblioteca do CCSP, mas quebrava um galho, era mais perto de casa. O que tem de bom estudar na biblioteca do CCSP? Ora, tudo lá é bom. Não apenas o seu entorno, mas sim o ambiente em si. Ele é próprio para o estudo, como uma boa biblioteca deve ser, e abre aos domingos! É a única biblioteca que eu conheço que abre aos domingos. Conheces outra? Pois então, faz tempo que não dou uma sentada por lá. Eh, tem que ter bunda pra estudar, isso é fato! As cadeiras magrelas de madeira não são um bom exemplo físico de conforto, mas sustentam muito bem seus assentados. E o bacana é: tu tá lá sentado, e de repente, putz, precisa de tal livro, sem problema, basta se levantar e ir de encontro à estante que o salvaguarda, sem precisar subir escadas ou encarar qualquer obstáculo arquitetônico. Claro, quando tu não encontras o tal livro, aí já é outra estória... Bem, já estudei e criei muitos textos sobre aquelas mesinhas de madeira. E também já peguei emprestado muitos livros apreciáveis – daqueles meio amarelados com o tempo, sabe? Deliciosos! Coisa muito boa de tocar, pegar, ver, ler, e até mesmo cheirar. Não me leve a mal, caro leitor, isso é só um pequeno vício inocente de um louco por livros. Outra coisa curiosa: muita gente tira um cochilo sobre essas mesmas mesas. Nunca precisei, mas já vi muitos estudantes descansarem suas mentes sobre as mesinhas de madeira. Nunca peguei alguém roncando também, mas não duvido nada que já houve casos, só espero que tenham respeitado tanto o roncador quanto os demais usuários – a maioria respeita. Eh, tenho que voltar a frequentar assiduamente a biblioteca do CCSP, por uma questão de saúde mental mesmo, coisa essencial. Contudo, um grande obstáculo, ou melhor, um grande concorrente, de repente, exibe-se lá na alvorada, mais precisamente próximo ao Anhangabaú, é a Biblioteca Mário de Andrade (BMA), a segunda maior do país! A primeira fica no Rio. E agora? Próximo dia vinte e cinco, aniversário da cidade de São Paulo, ela reabrirá plenamente, finalmente. Tornando-se opção mor para eventuais estudos literários, para meus eventuais estudos literários. Como ficará a biblioteca do CCSP, que já abrigou alguns livros do BMA? Bem, dependerá de alguns fatores: a BMA abrirá aos domingos? Na BMA haverá boas opções culturais durante a semana e no fim-de-semana? O que ocorrerá lá afinal? Mistério. Suspense. Na reinauguração eu vou, sem dúvida! Vai ser de manhãzinha? Bem cedo? Já tô lá! Mas e aí, rapá, o que vai rolar? Bem, pra ser parcial e mais correto, o certo seria alternar as visitas a esses templos do saber. Curti-lo a doses homeopáticas, não pensando em eleger o melhor, mas sim, o melhor pra cada caso que por aí surgir. Quanto mais bibliotecas, quanto mais opções de lazer e cultura melhor, certo? A cidade e seus concidadãos desde já agradecem.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

“Isso poderia ser um poema”

“Isso poderia ser um poema”

No arrependimento de hoje há o rompimento de ontem. No ciúme que floresceu, o amor se esconde. Tu não devias ter feito o que fez. Tu não devias desgostar do alguém que o outrem agora gosta. Escolhas feitas, conseqüências insatisfeitas. E agora? Tu me perguntas. Ora, já passou da hora de podar as plantas.

...

“E é?”

no arrependimento de hoje
há o rompimento de ontem

no ciúme que floresceu,
o amor se esconde.

tu não devias ter feito
o que fez
tu não devias desgostar do
alguém que o outrem
agora gosta

escolhas feitas,
conseqüências insatisfeitas.

e agora?
tu me perguntas.
ora,
já passou da hora de podar as plantas.

SSMS (41)

Oi. Vc ainda existe ou foi apenas um SMS de Verão?? Minha Caixa de Entrada ñ é mais a mesma sem tuas msgs. Dê KBs de vida! Ñ se delete assim tão repentinamente.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O contraceptivo e o fantasma

Foi a primeira vez. Nunca em toda a minha vida, nunca senti tanta apreensão quanto naquele dia, ou melhor, naquela madrugada acalorada. Costumo dormir com várias mulheres, mas não tenho uma que me prenda, tenho umas com as quais me prendo de bom grado. Com uma dessas, certa vez, cometi um pequeno atrevimento inconseqüente. Gozei dentro dela sem a devida proteção. Não fiquei preocupado, a princípio, mas ela, minha encorpada companheira daquela noite, ficou, instantaneamente ao perceber minha secreção peniana escorrendo entre suas formosas coxas. Seu sorrisinho malicioso e satisfeito transmutou-se rapidamente numa boca de pavor. Ela chorou. Xingou-me. Nessa ordem. Estava visivelmente nervosa e apreensiva, quase chegando ao desespero psicofisiológico. Foi algo nada atraente de se ver. A cada gota de lágrima que lhe caia da mimosa face, eu ficava igualmente preocupado, caia na real, transparentado, salgado e espatifado feito gotícula. Tentei acalmá-la. Disse-lhe que não precisava se preocupar, mas foi em vão. Ela não acreditava no que eu lhe dizia. Estava em seu período fértil. E eu no meu período incrédulo, cético. Ela conseguiu me convencer, porém. Morri de medo junto com ela. O fantasma da paternidade ganhava forma, contornos tênues, de traços vindouramente definíveis, indefectíveis. Em meio a esse devaneio, ela resolveu tomar a tal da pílula. Ótimo. Acabamos indo juntos comprar a bendita, no raiar do dia. Desembolsei uma boa grana por uma simples pílula, e ela ficou mais sossegada quando a engoliu duma vez, logo após o nosso farto café da manhã. Despedimo-nos um pouco embaraçado um com o outro; estávamos quase vexados. Dias depois, liguei pra ela. E ela me disse que estava tudo bem, afinal desceu o sagrado sangue. Esqueci de dizer que nesses dias sem contato, o fantasma da possível paternidade não arredou pé cá do meu lado. Mesmo consciente da infertilização, ele não vai embora, não me abandona mais. Insiste em espectrar-me ininterruptamente. Não é que eu tenha receio de ser pai, mas, ao contrário, desde aquele susto, penso, seriamente, em sê-lo. Por que não? Adoraria cuidar duma menininha linda, minha filha. Talvez eu esteja me sentindo sozinho demais. Relações efêmeras não me satisfazem mais como antes. Estou ficando velho, é fato. Vai ver é por isso que estou pensando nisso. E esse fantasma aqui tem de desaparecer. O nascimento de uma filha, ou até mesmo de um filho, será seu definitivo exorcismo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Frustrações da Classe C (desabafo)

- Cara, essa estória de economia aquecida está se revelando verdadeira. Virei o ano já com tevê a cabo instalada lá em casa. Ainda bem que eu estava de folga, pois, foi mó trabalho pra instalá-la. Tu sabes, meu apartamento é pequeno, sou arrendatário, e a saída do cabo da tevê a cabo do meu apê fica na mesma saída da do telefone, e a tevê fica do lado oposto, ou seja, no fim das contas, tive que arrastar meus móveis até o meio da tarde. E o cabo da tevê a cabo acabou ficando exposto; ele ficou pregado sobre o batente, circundando metade da minha saleta de estar. Pelo menos, a imagem que vejo agora na minha tevê é de alta definição, é digital, coisa aí que tá na moda ter. Os canais novos são bons. Agora, assisto a mais filmes e a mais séries dos quais aprecio. Outra coisa: assinei banda larga. Recebi esses dias o tal do modem. Coisinha pequena aquele aparelho tão essencial hoje em dia. Porém, a conexão de rede do meu notebook era muito pequena. O meu note é pra lá de velho. Já ficou ultrapassado faz é tempo. Assim, dia seguinte à chegada do meu modem, fui às pressas comprar um notebook novo. Isso num domingo. Acabei encontrando um bom lá no centro. Dei mais de setenta por cento de entrada. O restante, parcelei em dez vezes mais uns acréscimos aí da garantia estendida, e sem juros. Comprei mais dois anos de garantia. Tu sabes, manutenção de notebook custa muito caro. Enfim, comprei o note assim mesmo, em cima da hora; ele já estava nos meus planos, só que bem mais lá pra frente, sabe? Beleza. Em posse dele, já no meu apê, ao desembrulhá-lo, surpresa visível: o cabo de força dele era daquele que agora é padrão brasileiro – três pinos. Porém em todo o meu apartamento, em todos os cômodos, não há tomada pra três pinos! Nenhumazinha. E lá vai eu, num domingo de puta sol, bater perna atrás dum adaptador. Acabei arrumando um, paguei doze conto. Absurdo! Enfim, mais tarde, consegui, finalmente, ligar, usufruir as minhas recentes aquisições: o notebook e a banda larga. Coisa fantástica! Impressionante mesmo. Fiquei muito tempo no discado e no ultrapassado. Navego mais tranqüilo, até mesmo sorrindo. Percebi que fiquei até excitado! Participar do tempo atual é realmente uma experiência intensa e satisfatória. Entretanto, tenho que ti admitir, antes desse frenesi, passei certo mal-estar. Nunca tinha gastado tanto num só dia! Eh, o note não foi lá mui barato, apesar de estarmos numa época de liquidações. Sério. Enquanto meu suado dinheirinho acumulado era debitado de forma espantosamente rápida, meus órgãos internos me incomodavam. Era mais como uma dorzinha incômoda cá na boca do estômago, entende? Algo deveras desagradável. E tem mais. As contas da tevê a cabo, do servidor de banda larga e do provedor de acesso à Internet, e mais as faturas do restante das parcelas do notebook estão pra chegar, impressionantemente a tempo de serem pagas antes de seus respectivos vencimentos, na minha casa. Casa essa que, aliás, ainda estou pagando... Vida nova é foda! Espero não precisar de atendimento médico particular tão cedo. Senão, estarei é mais lascado. Plano de saúde? Não. Chega. O trabalho aumenta gradativamente, o salário paulatinamente e as contas astronomicamente. Tem coisa errada aí!...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

SSMS (40)

Hoje, vi um rabo q há muito tempo ñ apalpo, ñ aperto, ñ bato. O q faço?! A dona pode até gostar, apreciar, exigir. Ou talvez rejeitar... Invisto ou desisto??

sábado, 8 de janeiro de 2011

SSMS (39)

Muito juízo lá em Registro, viu? Se ñ registro um corpo e delito. Ñ sei o q há em Juquiá, mas ñ vá lá exagerar. Descanse, sossegue, ñ cante e ñ se embebede!!!

Cuide-se.

Sempre achei estranha, meio que incômoda, deveras desagradável essa expressão. Cuide-se. O que isso quer dizer? Diz, dizem: cuide de você. Certo. Mas o que ela realmente quer dizer? Deixemos essa camada superficial gráfica e adentremos o tênue filete das entrelinhas. Mas primeiro vamos contextualizar. Pergunto: quando utilizamos essa palavrinha, hein? Pense bem. Quando a utilizam? Pense. Ao término de um relacionamento amoroso, certo? Bingo! Bem, será mesmo que a pessoa que nos escreveu isso – eh, estou me focando no objeto gráfico – quis nos dizer, de todo o coração, pra gente se cuidar? Será que ela ou nós mesmos quando rompemos rolos, queremos que a pessoa dispensada, outrora tão desejada, se cuide bem? Que fique bem, mesmo sem a gente? Sei não... Minha desconfiança persiste, por isso, acho tão estranha essa expressão, essa idiossincrasia tão típica de nós, Homens. Peguemos o mini-Aurélio pra nos elucidar, está lá, pequeninamente impresso no verbete cuidar v.t.d. 9. Ter cuidado consigo mesmo. E logo acima desse, no verbete cuidado sm. 1. Desvelo (1). 2. Responsabilidade (1). * interj. 3. Atenção, cautela. Não franze as sobrancelhas, e nem diga: - Ahn?! Lembre-se: é cuide mais – (hífen) mais se, e mais . (ponto). E esse se diz muito! É um pronome. Certo. Pronome reflexivo, pra ser mais preciso. Mas esse pronome é também um índice de indeterminação do sujeito. Tá. O sujeito é a pessoa dispensada, rejeitada, sabemos bem. Entretanto, quando o outro escolhe o hífen mais o se, e não o nome da pessoa chutada, ou seja, quando o omite, o oculta, e não escreve Fulano se cuida, por exemplo, está, também, o obliterando do seu discurso! Em outras palavras, está relevando, de forma consciente ou não, o seu desprezo pelo sujeito dispensado. É uma outra forma de humilhação, vai! Viu? Não é que ela, a pessoa que dispensou, a pessoa que chutou, é alguém que ainda tem consideração pela rejeitada, que ainda pensa no bem-estar da chutada. Nada disso! Está é esmigalhando a existência de outrem. Está eliminando-a ali mesmo, descaradamente, na derradeira frase. Cuide-se. E o ponto, logo posterior à partícula se, também é muito revelador! É ponto-final, ué! Aquele pontinho pequenininho está enfatizando o encerramento do caso amoroso, está decretando sua extinção. Aquele pontinho pequenininho é um tiro certeiro no coração jogado fora. Eh isso, por ora. Concorda? Não? Escreva aí abaixo o que tu pensas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Dois encontros de dois

Eles se conheceram graças à amiga dele. Ela era prima dessa. Começaram se falando por telefone. Ele falando gracinhas, jogando charme, arquitetando um xaveco, todo simpático. Ela ouvia, ria, gargalhava e desabafava sobre Ele suas experiências frustradas. Naquele primeiro papo telefônico já estavam íntimos. Prometeram manter contato, e cumpriram. Falavam-se toda semana. Conversavam mais e mais e sobre muitas outras coisas. Curtiam o papo um do outro. Quando finalmente se conheceram pessoalmente, Ele estava trepado numa árvore, todo sorridente. Ela, lá do chão de terra, admirava-o com os olhos arregalados e com os lábios inquietos. Já no chão, num só pulo, Ele abraçou Ela. Um abraço bem apertado. Fogoso. Ficaram se olhando ainda um bom tempo antes de se agarrarem atrás da moita mais distante. Lá, lábios foram tocados, chupados e mordiscados. Bumbuns foram apertados, várias vezes. Malharam-se em pé mesmo, o tempo era escasso, os desejos, afoitos e crescentes, salientes. Após esse dia, ainda ficaram se correspondendo via telefone fixo, mas o tempo, entre uma ligação e outra, tornou-se maior, tornou-se menos freqüente, desfreqüente. Combinaram-se de se encontrar novamente meses depois (dentro do mesmo ano). Ela ligou de surpresa. Combinaram tudo às pressas, de última hora, no calor do momento, e num domingo. A saudade finalmente se fez presente. Ele foi até Ela. Chegou atrasado, mas foi, conforme prometido. No ponto marcado desembarcado se agarraram com pudor, não extrapolaram. De lá, foram pra uma pracinha próxima – era fim de tarde. Sentados um do lado do outro papearam, pouco, pra logo em seguida se tocarem, se chuparem, se mordiscarem. Só que dessa vez um batom mais aromático e uma manteiga de cacau reluzente participaram cumplicentemente do ato. Esses não agüentaram por muito tempo, a avidez dos amantes era feroz, ambos se dissolveram nas salivas libidinosas. As carícias estavam mais sérias. Apesar do discreto chuvisco que caia, o calor corpóreo dos dois só aumentava. Ele e Ela estavam a sós na pracinha. Da rua, provavelmente, não era possível perceber as fricções frenéticas. Talvez fosse possível e mui visível ver a bolinação mútua. Zíperes foram lentamente abertos, mas nada foi exposto, apenas apalpado. Esse encontro durou horas – o tempo abundava-se juntinho deles. Ele e Ela foram abraçados até o ponto de despedida. Antes de chegar lá, passaram a pé em frente a vários motéis. Pensaram, mas não entraram – já era muito tarde. Ele embarcou de volta pra casa dele, Ela ficou lá, parada, por alguns segundos. E foi embora pra sua casa. Sozinha, mais uma vez. A garoa tépida transformou-se em chuva. Chuva fria, pesada, dessa que até machuca, dói quando atinge a pele. Ele e Ela nunca mais se falaram, ou se viram. Verão.