terça-feira, 30 de agosto de 2011

Móbiles: Safra (6)

inveja
inveja
inveja
inja
inveja
inveja


...

correlato
correlato
correlato
correlato
correlato
correto
correlato
correlato
corrélato
correlato
correlato
correlato
correlato


...

crepúsculo
crêpúsculo
crepúsculo
crepusculo


...


roupagem
roupagem
roupajem
roupagem
roupasem
roupagem
roupagem


...

desembargador
desembargador
desembargador
desembargador
desembargador
desembargador
desembargador
desembargador
desembargador
desembargador
desembargador
desembargador
desembargador
desembargador


...

apelido
apelido
apelido
apelido
apelido
apelido
apelido
apêlido
apeuido
apelido


...

demasiadamente
demasiadamente
demasiadamente
demasiadamente
demasiadamente
demasiadamente
demasiadamente
demasiadamente
demasiadamente
demasiamente
desiadamente
demasiadamente
demasiadamente
demasiadamenté
demasseadamente
demasiadamente
demaciadamente


...

severa
severa
severa
severá
severa
seVera
serera
severa


...

cicatriz
citriz
cicatriz
cicatriz
cicatriz


...

ultrapassagem
ultrapassagem
ultrapassagem
ultrapassagem
ultrapassagem
ultrapassagem
ultrapaçagem
ultrapassagém
ultrapassagem


...

sacanagem
sacanagem
sacanagem
sacanagem
sacamagem


...

ínfimo
enfimo
ínfimo
ínfimo

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Pra não dizer que não falei das flores


- Ah, querido filho, aquele grande momento finalmente chegou. Você deixará está pequena casa para se aventurar por aí afora; encarará, sozinho, o mundo hostil. E, como mãe, sinto-me no direito de deixar um último aviso. Não fique aborrecido, é coisa muito séria, assunto de vida ou morte. Ao partir daqui, não se engrace com a primeira flor que vir deste luminoso jardim. Bem sei que você, meu lindo, é louco pra pousar a procura de pólen, mas cuidado! Preste bem atenção, as aranhas não são flores que se cheire, não. E não estou pensando naquela tal de Viúva Negra quando lhe digo isso. Tá certo que ela é pequenininha, maliciosa e terrivelmente atraente, qualidades essas que você, meu queridinho, curti demais numa fêmea. Eu ti conheço bem. Mas a perigosa mesmo, a verdadeira periguete é uma que nem nome tem, apenas uma alcunha, um nome de guerra: aranha albina. Não se engane, meu filho. Não se iluda. De albina ela não tem nada. Ela é branca mesmo! Não tem pelo mas tem pele, uma pele bem lisinha... Desfaça já esse sorrisinho! Ouça: a tratante tem um bundão, é verdade, mas não se deixe tentar por essa proeminência pecaminosa. Ela é letal. E a fluorescência que ela transmite desavergonhadamente não é amor à primeira vista, não; é morte na certa. E tem mais: essa zinha se movimenta lentamente, adora se balançar junto ao vento... Uma dissimulada, isso sim! Não caia nessa, meu filho. Não se deixe seduzir. Nem tudo deste mundo-jardim é o que aparenta ser. Não seja uma presa ingênua. Seja zangão, mas não use esse ferrão! Com ou sem proteção, tu tá ferrado, menino. Essa branquela é misteriosa... Nem teia fixa tem. É uma Solteirona Sarará mesmo! Por isso, mais uma vez lhe digo e saliento: muito cuidado. As flores são perigosas e aquelas que as imitam também. Melhor trair a si mesmo do que ser atraído ao fim. Eu sei. É difícil ouvir essas coisas nessas horas de liberdade, mas um dia, se você sobreviver até lá, e vai, assim desejo, você me entenderá. Agora, fique mais um pouquinho, vai, me falta ti falar das bestas das vespas. Fique.



Acessado em: 16/08/2011 às 21h50.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

SSMS (60)

A resposta é uma certeza ou outra dúvida travestida. Quando não nos respondem o que é? Uma resposta muda e esnobe ou uma resposta sem resposta?? Dúvidas cruéis!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Agruras de um solteiro


Quando a Solidão me aborrece e a minha presença já não apetece a mim mesmo, evoco meus queridos mortos. Mas não é qualquer assombração, não, meu senhor leitor. As almas que clamo são almas despenadas, almas nuas para aplacar a minha desgraça, a minha sina maldita e carnívora. Assim, deitado no meu quarto úmido e frio, eu as chamo sussurrando, uma por uma em fila, quase um purgatórinho exclusivo do gênero feminino. E o Fantasma da Primeira Namorada surge, o da última transa também e os das conquistas dos fins-de-semanas passados aos bocados. A orgia é sinistra. No meu harém espectral, sou o sultão que remói estórias, mas na verdade, ou na dura realidade, sou mais um eunuco da Classe C. E nesse devaneio em que me enfio, definho feio horas a fio, até que Hypnos me reclame. Meus queridos mortos não me assombram nos meus sonhos, infelizmente. Não tenho sonhos nem pesadelos. Esses eu vejo quando estou bem acordado mesmo. Quando adormeço, após esse coito nulo, o que meu inconsciente me apresenta mais parece uma cegueira branca, só isso. Meu inconsciente me abandonou, somente a consciência - maldita! – cá floresce na cachola desolada, suja e mal-amada. E por ser consciente assim minha infelicidade é uma certeza, é uma constante irritante nesta vidinha ordinária, e assombrada, de solteiro.

domingo, 14 de agosto de 2011

PASSADO NÃO PASSA, PASTA


o passado está morto
o presente está torto

lembranças quentes permanecem presentes
previsões frias preferem esquecer

uma certa continuidade domina
uma destra ruptura adormece

tudo é palpável
nada é palatável

a pasta homus come todos [que]
querem destaque, e até conseguem, mas dá mau hálito
eles pregam homogeneidade
não há idade
pra liberdade de fachada,
fechada em si mesma
ou só de aparência.

isto é atitude?!
Aporrinhação.
isto não é revolução!

queria que minha praça fosse a Tahrir
lá, querem que o passado passe
e que fique bem passado
aqui,
ele pasta,
ruminando
num eterno fim de tarde ensolarado
nunca superado
vivo demais
morto o almejamos
necrófago...


Referência:

PEREIRA, Álvaro Júnior. O YouTube matou o passado. Folha de S. Paulo. Ilustrada de sábado, 6 de agosto de 2011, E16.

HIPOPÓTAMOS NÃO CHORAM

- Não chores por mim Argentina!
Meu declínio clínico é irreversível
minha angústia é passageira,
mensageira que vem voando num dardo com anestésico
que penetra minha pele sensível
não meus coração e pulmões diretamente,
apenas indiretamente –
uma parada cardíaca e respiratória induzem –
e com carinhos deduzem que estão me perdendo...
Besteira!
a insuficiência renal crônica,
a anemia,
a artrose,
os problemas odontológicos, ou
as úlceras que tenho cá na língua e nas bochechas
não me farão partir
dores eu não sinto, ou
não transpareço sentir.
E nem vem com esses
anti-inflamatórios,
antibióticos,
analgésicos e
anátemas
tudo inútil!
A eutanásia não é só uma escolha minha
e qualquer perda é dramática
eu já pari gêmeos
coisa rara, dizem
eu já vi mamãe morrer
eu já vi meus irmãos desnutridos da Somália
e, ultimamente, só ouço mortes ao pé da cama
e, mesmo assim,
não choro –
não tenho mais lágrimas
pois
hipopótamos não choram
quando um sininho ainda toca


Referência:

CAPRIGLIONE, Laura. Morre o hipopótamo Teteia, animal mais antigo do zoo de SP. Folha de S. Paulo. Cotidiano de sábado, 6 de agosto de 2011, C5.

domingo, 7 de agosto de 2011

Adriana’s ou vacilações dionisíacas urbanas

Não sei bem ao certo se é sina ou natural, como se no livro da minha vida o Destino já tivesse lá escrito ou se é como formigas que não resistem ao bom mel. Mas é fato, verídico e consumado. O nome ADRIANA me persegue feito carma na carne fraca.

A primeira simplesmente surgiu. Era uma vizinha minha da infância. Eu era criança e ela pré-adolescente. Eh, querido e velho leitor, desde pequeno me envolvo com gurias mais velhas, mas isso é outra estória... Voltemos pra primeira Adriana da minha vida. Por sermos vizinhos brincávamos adoidado, apesar de ela ser crente e eu carente. Nossas estripulias se limitavam nas escadas; não me divertia com ela no pátio do prédio, erámos mais reservados, discretos. Lembro-me mais de nossas guerras d’água. Aqueles saquinhos de geladinho (sinônimo de sacolê) tinham uma boa utilidade bélica – pequenos jatos d’água potável para todos os lados! No verão, era de praxe essa brincadeira, ambos não tínhamos dó; éramos dois déspotas infantis. Há tempos, o próprio tempo a levou embora. Levou-a para o Sul, Santa Catarina. Até chegamos a trocar cartinhas. Usávamos papéis de carta (ainda existe isso?) como suporte de nossa escrita marota. E a última cartinha que eu lhe enviei não teve resposta. E nossa estória encalhou aí.

A segunda Adriana só surgiu muito tempo depois. Eu estava no meu primeiro trabalho com registro em carteira e ela trabalhava numa das filiais – eu trampava no escritório, na matriz. Tomou tara pela minha voz, a menina. Eu acabava de sair da adolescência e ela de entrar na dita idade da loba... Querido e velho leitor, não faça esse sorrisinho malicioso, tá bem? Enfim, mesmo sendo treze anos mais velha, a fome dela era voraz, tinha um pique, uma sinergia impressionante! Acabou desvirginando o garoto aqui. E foi divertido, sabe. Valeu a pena todos os gastos pagos por mim. Eh, envolver-se com mulher mais velha não é barato, não. Tivemos uns encontros esporádicos, mas acabamos perdendo contato. Deixei de ligar pra ela, e ela nunca ligava pra mim...

A terceira Adriana também surgiu na antiga empresa onde eu trabalhava, era de outra filial, de um total de quase sessenta. Ela também curtia a minha voz e minha simpatia descomprometida. Essa era da mesma faixa etária – finalmente! Rolou muita troca de mensagens de texto e fotos antes do primeiro encontro. Rolou uns beijos, uns amassos, nada mais além. Tivemos apenas dois encontros ao todo. Era virgem, disse-me, e pretendia ser por um bom tempo. Até pouco tempo atrás, estava namorando... Hoje, está solteira, e muito bem. Eh, eu ainda mantenho contato com ela. Sempre me dispensa educadamente. Boa menina ela. Saudades...

A quarta Adriana também era de outra filial do meu antigo trampo. Péra lá, leitor desconfiado e recriminador. Eu fiquei mais de quatro anos nessa empresa, então, era natural, não intencional, veja bem, me relacionar bem com as minhas colegas de trabalho. Bem, com essa Adriana, que também era um pouco mais vivida do que eu, o papo era agradabilíssimo. Tínhamos gostos muito parecidos. Ficávamos horas conversando pelo telefone fixo. E, meu caro, custou-me meses a fio até conseguir um encontro físico com a pequena. Só a via, brevemente, nas reuniões mensais da firma – uma vez por mês! Após muita insistência e paciência, consegui marcar um programinha com essa mulher atarefada. E, após uma forte chuva e quase uma hora de espera, eu a abracei bem forte. Era verão. E aquelas pernas torneadas e bem alvinhas ainda hoje permeiam minhas fantasias libidinosas. Fomos ao museu (MASP) apreciar umas esculturas do Rodin (Auguste Rodin, 1840-1917). Mas, confesso, dividi meus olhares entre às formas de bronze e às formas carnais – aquele vestidinho que ela vestia era um delicado convite ao apalpamento! Em seguida, fomos comer e bebericar umas coisinhas ali perto. Mostrei-lhe umas anotações de cunho literário no meu celular e ela me mostrou umas imagens, belas imagens, de seus trabalhos florais de cunho plástico. Era uma verdadeira artista escondida nas araras do comércio varejista. Sentia uma forte atração por ela. Ela era tão sensível! Ela realmente me inspirava, me deixava deveras empolgado. Talvez justamente por isso mesmo não rolou nada mais carnal ou etecetera e tal entre a gente. Esse nosso único e derradeiro encontro físico durou poucas horas, à noite ela tinha outro compromisso. Ao nos despedirmos, dei-lhe outro forte abraço e um beijo, claro, na bochecha direita. E sob a chuva que mais uma vez se iniciava, eu a vi ir em direção a seu carro vermelho. Ela não olhou para trás. E eu não vi o automóvel partir. Também deixei de ligar pra ela toda semana, e ela, também, curiosamente, nunca ligou para mim.

Pra terminar, a quinta e, até agora, última Adriana da minha vida é poeta. Eu a conheci, ou melhor, eu conheci seus textos há pouco tempo, por meio dum jornal local. Folha ou Estadão? Não me lembro. Eu nunca a vi pessoalmente. E nunca vi uma fotografia sequer dela. Eu acompanho suas publicações semanais via Internet – ela tem um blog. Curto seu estilo: simbólico, mistura o que há de mais sublime com o que há de mais depravado. Seus poemas são quase pornográficos, sujos e deliciosos. Aprecio antagonismos, disparidades e disparates num texto cru! Não sei até onde vai este nosso “relacionamento moderno”, mas vou continuar acompanhando seus textos, seus passos gráficos, à distância. Talvez assim seja mais seguro para ambos, e mais duradouro.